Os fragmentos foram avaliados segundo os descritores de conservação: Muito bom, Bom, Regular, Mau e Deficiente. De um modo geral, os materiais provenientes da sondagem 02 apresentam estados de conservação mais variáveis do que os da sondagem 01. O estado Regular foi o mais representado, cerca de 91% da totalidade do material cerâmico distribuído uniformemente nas sequências estratigráficas de ambas as sondagens. O segundo estado mais detetado foi o Deficiente, todavia com valores drasticamente menores, com cerca de 5%. Os fragmentos identificados em pior estado de conservação (3 fragmentos na sondagem 02) pertencem à camada mais recente.
Por toda a sequência da sondagem 02, os fragmentos apresentaram uma distribuição homogénea. No entanto, destacam-se 43 fragmentos em Muito bom estado de conservação, circunscritos à unidade estratigráfica UE028, que cobriu uma estrutura arruinada (UE022). Nesta categoria de conservação apenas foram identificados mais 3 fragmentos em fases mais recentes. Esta situação particular de concentração do material bem preservado, levou-nos a considerar a hipótese da sua deposição ter acontecido deliberadamente, junto dos elementos pétreos da estrutura já arruinados.

A predominância foi para os ambientes redutores em todas as fases da intervenção, cerca de 84%. Dos restantes fragmentos, 15% apresentam cozeduras mistas e, só mais pontualmente, apareceram cozeduras oxidantes, das quais nenhum exemplar foi recolhido em contextos ligados à prática da combustão (Fase II da sondagem 01 e Fases II e IV da sondagem 02), o que parece afastar a origem da coloração ocre e avermelhada destas peças como estando associada à sua possível participação nesses processos.
Salientamos uma certa tendência para o surgimento de sinais inequívocos de choques térmicos de alguma intensidade nos grandes vasos. Esta exposição pode explicar a alteração do seu cromatismo para os tons cinza-claro e o aparecimento de texturas porosas nas superfícies. Parece-nos que estes processos foram realizados enquanto as peças ainda estavam intactas, uma vez que não se detetam tais vestígios nas fraturas dos fragmentos.

Frequência dos desengordurantes:
Moderada (63,69%) – predominante em quase todas as fases. Abundante (20,27%) e escassa (16,04%). De referir que na Fase I (Sondagem 01) os desengordurantes são maioritariamente abundantes.
Tamanho dos elementos não plásticos:
Sondagem 01: Predomínio de tamanhos médios (>75%), exceto na Fase II (50% médios, 50% pequenos). Tamanhos grandes são raros.
Sondagem 02: Fases I–III: Dominam os tamanhos pequenos (58–91%). Fases IV–VII: Inversão para tamanhos médios.
Os elementos grosseiros surgem nas fases intermédias/finais (especialmente Fase III com 2,31% e Fase VI com 7,84%).
Destaca-se uma evolução no tamanho dos desengordurantes que começam finos e progridem para mais grosseiros (sobretudo na Sondagem 02, associados a grandes recipientes de pastas grossas). No entanto, são necessários estudos laboratoriais complementares para confirmar e refinar estas tendências.

De um modo geral destaca-se a coloração cinzenta (cinzento-escuro, cinzento-claro e cinza) em ambas as superfícies dos fragmentos, seguida da coloração castanha (castanho, castanho-escuro e castanho-claro).
A terceira cor mais representada foi o bege e depois o laranja que, apesar da sua moderada expressão no conjunto, ganhou um destaque significativo nas fases II e III, ligadas aos processos de reforço e abandono da estrutura granítica (UE022).
Os fragmentos de cor laranja aparecem nas fases V e VI da sondagem 01 e em quase todas as fases da sondagem 02, com particular concentração na fase III. Os vermelhos, muito pontuais, apresentaram uma concentração notória nos depósitos sedimentares na fase V e VI da sondagem 01 e na fase VII da sondagem 02. Os fragmentos ocres foram raros e circunscritos às fases I a III da sondagem 02.

Relativamente aos acabamentos das superfícies o padrão mantem-se nas duas sondagens, com os brunidos em supremacia sobre os alisados, nas fases mais antigas das sondagens, invertendo-se essa tendência na fase VI da sondagem 01 e nas fases III a VII da sondagem 02. Por outro lado, as paredes grosseiras, que constituem o 3ª acabamento presente, com 14% do total de fragmentos, surgem apenas nas fases V e VI da sondagem 01 e com maior expressão nas fases III, VI e VII da sondagem 02.
Já os acabamentos interiores evidenciam uma distribuição diferente dos exteriores, com as paredes interiores maioritariamente alisadas (67%), mas destacando-se em percentagem as paredes brunidas, com apenas 23% e 10% com acabamentos interiores grosseiros. Tal como acontecia com os acabamentos exteriores, também aqui se nota uma distribuição diferente de acordo com as fases arqueológicas.
No caso da sondagem 01 temos maioritariamente acabamentos alisados nas fases mais antigas (fases I e II) e na ultima fase (fase VI). Já na sondagem 02 a supremacia dos acabamentos alisados começa na fase III e mantem-se até à fase VII. Os acabamentos grosseiros aparecem em maiores quantidades nas fases mais recentes de ocupação.
Mapa dos acabamentos das superfícies exteriores:

Para uma descrição morfológica, procedemos a uma primeira seleção baseada no potencial de análise dos fragmentos cerâmicos, nomeadamente dos fragmentos que denominamos de "material classificável", isto é, que fornecem informação sobre a sua forma (bordos, fundos e asas), ou que, mesmo que corresponda só a parte do corpo ou parede do vaso, apresentem algum elemento decorativo nas suas superfícies.
Tipologia geral dos Bordos
Tipologia geral das Bases
Mais de 98% dos fragmentos de bases identificados não tinham dimensões suficientes para se compreender a sua morfologia.
Apenas identificamos, em todo o conjunto, dois tipos de base côncava, com 6 fragmentos na fase VI da sondagem 02, uma das últimas fases do sítio, já relacionada com o seu abandono. A base do tipo plana foi a mais comum, e mais ou menos homogénea em toda a sequência, com 2 fragmentos nas fases V e VI da sondagem 01 e os restantes distribuídos pelas fases II e VII da sondagem 02, com uma maior concentração na Fase II (21 fragmentos) e na Fase V (6 fragmentos).
Tipologia geral das Asas
As asas foram previsivelmente os elementos menos presentes, tendo sido identificadas 41 unidades, maioritariamente do tipo fita (4 asas na Fase V da sondagem 01 e na sondagem 02 foram contabilizadas 8 na Fase III, 6 na Fase VI e 4 na Fase VII).
Os elementos do tipo pega, ausentes na sondagem 01, foram os segundos mais presentes na sondagem 02, com 2 na Fase III, 5 na Fase V e 2 na Fase VI.
Registaram-se ainda 5 asas do tipo retangular na Fase III da sondagem 01, 1 cilíndrica na Fase II da sondagem 02 e 3 do tipo canelada na sondagem 02, nas Fases V e VI.

A percentagem de fragmentos decorados é baixa, pelo que poderemos concluir que a cerâmica do Alto das Malhadas era predominantemente lisa.
Na sondagem 01 temos apenas 24 fragmentos que representam 2,39% da coleção cerâmica decorada, enquanto na sondagem 02 a percentagem sobe ligeiramente para 5,02%, com 177 fragmentos. No entanto, não podemos deixar de referir que alguns dos fragmentos lisos poderiam fazer parte de peças decoradas, uma situação particularmente plausível no caso dos grandes recipientes de armazenamento, pelo que a representatividade da cerâmica decorada no Alto das Malhadas deve ter sido mais elevada do que as estatísticas mostram.
Centrámos a análise ornamental da cerâmica nas técnicas utilizadas e nos motivos representados, tendo sido catalogados dez tipos de decoração e dezoito motivos a elas associados, sendo o conjunto mais representativo registado na sondagem 02.
Técnicas decorativas:
Decoração - motivos:

O volume de material catalogável, embora moderado, é suficientemente expressivo para propor uma tabela formal de referência ao trabalho de análise e estudo do conjunto vascular proveniente do Alto das Malhadas. Na região, são escassos os trabalhos análogos para a Pré-história Recente, onde encontramos apenas algumas publicações académicas e alguns catálogos provenientes de intervenções arqueológicas, pelo que decidimos a expandir a área de influência em estudo. Deste modo, optamos por adotar como referência os trabalhos realizados na região da bacia do Douro, em particular os estudos de António Carlos Valera em Fornos de Algodres, de Leonor Pereira em Castelo Velho, Elsa Luís na Fraga dos Corvos e José António Rodríguez Marcos na província de Valladolid, entre outros, imprescindíveis na interpretação do sítio e catalogação do espólio. Tomando os ditos trabalhos como guias de orientação do estudo ao material cerâmico do Alto das Malhadas, construímos uma tabela formal com 18 perfis cerâmicos.